sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Je veux voir le cirque de puces (Eu quero ver o circo de pulgas).

(Artigo escrito em julho de 2012)



O presente trabalho discorre sobre o processo de elaboração e criação do vídeo, Je veux voir le cirque de puces (Duração: 3:37) , a partir das proposições do componente curricular, Elementos da Linguagem Visual. Disciplina comum aos cursos de Dança e Teatro da Uergs (Universidade Estadual do Rio Grande do Sul), ministrada pelo Professor Mestre Igor Simões, do curso de Artes Visuais. A proposta era que, partindo da escolha de um texto dramático ou fragmento coreográfico, fizéssemos a associação de pontos, linhas, formas geométricas, cores e objetos que englobassem estes elementos na construção de um significado.
Relacionando tais escolhas ao texto Sintaxe da Linguagem Visual, e posteriormente criando um espaço cênico que dialogasse com todas as informações obtidas durante o processo de criação/reflexão, contextualizando-os na atual escrita. Devo ressaltar que este, é na realidade, o segundo texto que escrevo, por ter percebido que estava fazendo paralelamente dois trabalhos para a mesma proposta. O primeiro deles se referia a um fragmento da peça de Tenesse Williams, Um Bonde Chamado Desejo. E foi para ele que relacionei meus primeiros passos, linhas e afins. Optando, ao perceber que teria de fazê-lo, pelo processo com o circo de pulgas.
A ideia do Circo de Pulgas surgiu no dia vinte e três de março durante o Seminário A Encenação Contemporânea, com a pesquisadora e professora francesa, Dra. Béatrice Picon- Vallin, em Porto Alegre, na sala Álvaro Moreyra. Não sabendo, eu, dizer ao certo, se ao longo da conferência Reexaminando o Papel do Encenador Hoje, ou se após a mesma. Re- visitando minhas memórias em relação a esta noite, lembro, de que a musicalidade da fala “à francesa”, me provocara durante toda a conferência. E que de lá voltei, imaginando como seria pronunciar Eu quero ver o circo de pulgas em francês, (semanas antes, eu assistira a um documentário sobre insetos, descobrindo que estes circos de fato existiam).
A partir daquele momento, as imagens dos atores e a visão de uma mulher que constantemente pedia para ver o circo, não saia da minha cabeça. Auxiliada pelo Google Tradutor, descobri tanto a escrita quanto a pronúncia da frase “Eu Quero ver o Circo de Pulgas”, fui então, em busca, de materiais que permitissem ampliar meu conhecimento à respeito do assunto. Cheguei até o texto contido em uma página na Internet, referente à revista Super Interessante, que me deu subsídios para a condução e contextualização dos caminhos de criação. O mesmo dizia:

A arquiteta Maria Fernanda Cardoso decidiu abandonar as pranchetas e amestrar pulgas. Ela é dona do circo de pulgas Cardoso, sediado em San Francisco, nos Estados Unidos. No século XIX, este tipo de circo fazia sucesso nas feiras das pequenas vilas. Hoje, ainda há registro de quatro deles.
Das 1600 espécies de pulgas, duas, que medem cerca de três milímetros, são as preferidas por serem as mais comuns: a pulga de gato (Ctenocephalides felis) e a que ataca o homem (Pulex irritans). “Eu levo cerca de três meses para adestrar o inseto, que vive dois anos”, diz Adan Gertsacov, proprietário do circo Acme, também nos Estados Unidos. Mas, a palavra adestrar talvez não seja correta. “Uma pulga não é capaz de aprender como um cachorro”, diz o entomologista Carlos Campaner, da Universidade de São Paulo. “Seu sistema nervoso é pouco desenvolvido.” O que se faz é aproveitar os movimentos naturais do inseto. Mas isso pouco importa para quem está assistindo, seja na tela de televisão ou com uma lupa. As imagens são tão surpreendentes e incomuns que o show está garantido.


A partir do texto acima e também dos demais detalhes descritos ao longo do mesmo, refleti sobre a possibilidade de escolher atores que assim como as pulgas, estariam a serviço de algo que desconheciam. Fazendo parte de um processo no qual suas habilidades naturais seriam utilizadas para a criação do universo circense. Este criado como um espaço vazio, ou “um não lugar”, de onde as pulgas poderiam ser observadas pelo filtro da tela.
Utilizando as associações de pontos, linhas e formas geométricas referentes ao trabalho anterior, no qual cheguei tanto ao círculo, quanto a dois triângulos retângulos, criei um universo de associações entre as formas. Justificando a escolha dos objetos como: Cone de cartolina (lugar por onde se espia) e copo (triângulo+ círculo); Cilindro vazado (lugar por onde se espia) e cartola (círculo+ os dois triângulos unidos que resultariam em um retângulo= forma e altura da cartola); Mesa (associação dos triângulos). Quanto às formas há uma importante citação no texto Sintaxe da Linguagem Visual que corrobora com a reflexão proposta:

A direção diagonal tem referência direta com a ideia de estabilidade. É a formulação oposta, a força direcional mais instável, e, consequentemente, mais provocadora das formulações visuais. Seu significado é ameaçador e quase literalmente perturbador. As forças direcionais curvas têm significados associados à abrangência, à repetição e à calidez. Todas as forças direcionais são de grande importância para a intenção compositiva voltada para um efeito e um significado definidos. (DONDIS, 1991, p.60)

A associação de triângulo e círculo neste sentido foi perfeita, considerando que as formas curvas, combinadas às diagonais (triângulos) fundiam repetição e instabilidade, elementos que estariam presentes como texto visual. Permeando tanto a dramaturgia do universo das pulgas, como da mulher que as observava. E neste sentido é interessante ressaltar que a forma circular influiu diretamente na criação desta dramaturgia, visto que o curta começa com o olho (associação entre círculos e triângulos) da encantadora das pulgas e termina com um olhar outro, sobre a mulher. Dando a ideia de que ao mesmo tempo em que ela observava o circo de pulgas, era também ela, a pulga no circo de alguém. Para melhor compreensão da relação entre dramaturgia e visualidade recorro aos Fundamentos Sintáticos do Alfabetismo Visual:

Na criação de mensagens visuais, o significado não se encontra apenas nos efeitos cumulativos da disposição dos elementos básicos, mas também no mecanismo perceptivo universalmente compartilhado pelo organismo humano. Colocando em termos mais simples: criamos um design a partir de inúmeras cores e formas, texturas, tons e proporções relativas; relacionamos interativamente estes elementos; temos em vista um significado. O resultado é a composição, a intenção do artista, do fotógrafo ou do designer. É seu input. Ver é outro passo distinto da comunicação visual. É o processo de absorver a informação no interior do sistema nervoso através dos olhos, do sentido da visão. Esse processo e essa capacidade são compartilhados por todas as pessoas, em maior ou menor grau, tendo sua importância medida em termos do significado compartilhado. Os dois passos distintos, ver e criar e/ ou fazer são interdependentes, tanto para o significado em sentido geral quanto para a mensagem, no caso de se tentar responder a uma comunicação específica. (DONDIS, 1991, p. 31)


Para a criação da ilusão do universo das pulgas também fiz uso do recurso da dimensão e escala (perspectiva), filmando os atores de costas, a uma certa distância e aproximando à lente da câmera, um copo, dando a ideia de que as pulgas estavam dentro do mesmo (muito maior que os atores por estar próximo a câmera), que era retirado aos poucos. O elenco, porém, em nenhum momento tomou conhecimento de que enquanto estavam de costas, este processo era realizado. Ao virarem-se de frente e executarem os movimentos orientados, o copo já havia sido ocultado, impedindo que desconfiassem de que eram as pulgas de um processo, do qual nada sabiam.
Sua disposição no espaço, bem como suas ações e movimentos também remeteram ao círculo e à linhas diagonais triangulares. Como a cor escolhida foi o preto, as cenas foram gravadas tanto na sala cinquenta e um (sala das aulas de Teatro, que possui paredes, teto, cortina e linóleo preto), quanto em um corredor da Fundarte (fundação Municipal das Artes de Montenegro, prédio sede da Uergs). Este possui, uma parede cinza chumbo, acarpetada, facilmente modificada com os efeitos de saturação da cor, e o Black Restore, que confere um determinado formigamento ou textura às imagens (em escalas de cinza), sempre associado ao “mundo das pulgas”.
As imagens das pulgas foram feitos em dois momentos distintos, o primeiro com a pulga (que embaralhava os copos, que continham outras pulgas), a atriz Windy Branco (3º semestre- Teatro), realizado em pelo menos trinta minutos. Depois com os atores Gustavo Diestman, Daniel Barcellos, Raquel Zepka, Janaína Lima, Thaís Backes e João de Carli, (1º semestre- Teatro), aproximadamente em quinze minutos antes da aula da professora Jezebel De Carli. Os atores foram orientados a utilizar roupas de trabalho (camisetas e calças pretas) e a única informação, para justificar os movimentos que deles seriam pedidos, era o de que eu estava trabalhando a partir de formas geométricas.
O objetivo da neutralidade dos figurinos, era atribuir-lhes a significação comum de pulgas. O traje da encantadora dos insetos também era preto, embora estilizado. Um terno com decote em corte triangular, a destacava e a colocava numa condição diferente das demais, só no fim, ao se descobrir observada é que a associação do seu “eu” pulga também se torna mais possível. É interessante ressaltar que as imagens do universo da observadora eram mais orgânicas, com imagens apenas saturadas, enquanto as imagens dos atores- pulgas sempre recebiam o tratamento Black Restore. Estes efeitos, porém, começam a se fundir ao longo do curta, como código visual, de que ela também estava sendo observada. A imagem final, (na qual o cilindro branco de papel ofício vazado, é utilizado para espiá-la), recebe o efeito TV, de tonalidade azulada e textura visual mais aveludada ou “chuviscada”.
As duas filmagens, bem como os vídeos de filmagem da encantadora de pulgas e imagens do olho, foram realizados em momentos diferentes, sem que nenhuma das pulgas tomasse conhecimento da existência dos processos de gravações paralelas aos seus. O áudio também foi gravado separadamente, e sincronizado ou não de acordo com o objetivo da cena. Jonathas Pozo, responsável pela edição e montagem dos vídeos, uma pulga, “digamos assim”, consciente de sua condição, utilizou o programa Sony Vegas. Todo processo de gravação, roteirização, edição e montagem do vídeo foi dirigido por mim.
Mas, um dos aspectos interessantes é refletir sobre a autoria do mesmo. Autoria questionada de alguma forma, no dia do nascimento desta ideia, no qual Béatrice Picon- Vallin refletia sobre qual é o papel do encenador na cena contemporânea (qual é sua autoria em um processo no qual todos co-criam)? Embora, eu tenha o conceito e imagens pré- definidas, inclusive, algumas, desenhadas para orientar a cinegrafista Stephanny Dilenburg. É indiscutível, que no momento em que outro olho está por trás ou diante da lente, responsável pela edição, captação de imagens, atuação (por mais pré- expressiva que seja, como no caso das pulgas), esta autoria se divide.
São diferentes olhares (pulgas- atores, pulgas-cinegrafistas, pulga- editor), a serviço de um único olho (pulga- observadora- diretora), que passa a estar à mercê de diferentes olhares novamente (pulgas-espectadores). Voltamos então à imagem do círculo, ou aos triângulos dentro deste círculo e da forma como se relacionam num (des) equilíbrio próprio e silencioso.
Em uma de nossas reflexões, anteriores a realização da presente atividade, fiquei responsável por trazer uma imagem que estivesse em equilíbrio visual. Trouxe então, uma das imagens iniciais do filme “A Montanha Sagrada” de Alejándro Jodorowsky, (que infelizmente ainda não tive acesso, para assistir na íntegra). Nela também havia a configuração de um triângulo e um observador silencioso no centro. Acredito que mesmo inconscientemente, esta imagem tenha influenciado nas minhas escolhas para a criação do curta. Pesquisando para a atual escrita, achei uma descrição do filme que (salvo suas particularidades) me pareceu surpreendentemente próxima, a transcrevo abaixo:

Em A Montanha Sagrada um Cristo latino- americano contemporâneo caminha pelo centro histórico da Cidade do México com seu companheiro anão. Os dois andarilhos por um momento interrompem a caminhada para assistir ao “Grande Circo da Conquista do México”, interpretado por sapos e camaleões. (SESC, 2009, s/p.)

Embora, na breve passagem do circo de Jodorowsky, os camaleões astecas sejam massacrados pelos sapos espanhóis e haja aí toda uma reflexão política e religiosa, senti-me muito feliz com esta, até certo ponto, coincidência “circense”. O que me levou a questionar mais profundamente as possibilidades de leitura do meu circo, em que todos, (por mais que acreditem estar no controle), também são pulgas de um processo. Seríamos na vida, pulgas do circo de alguém? Existe alguma pulga no controle? Quem a observa? Quem é a pulga autora deste texto? A pulga que o escreveu, as pulgas citadas, as pulgas participantes... ou a pulga que o reescreve a partir de sua leitura?



Referências:

DONDIS, Donis A. A sintaxe da linguagem visual. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
SESC. Mostra JODOROWSKY. In: Sonho, Magia e Desrazão, um diálogo entre Glauber e Jodorowsky (Estevão Garcia). São Paulo: Ed. SESC, 2009.





segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Performoveção da Mesa da Lis (Véspera)

Postagem realizada em 9/9/2014 às 01:40.


Me preparava para escrever aqui, a uma da manhã, quando o Joanthas (maridão) me dá a notícia de que apagou e perdeu boa parte do que tinha no desktop de seu notebook, ou seja, uma porção de coisas minhas, incluindo vídeos de alunos... Então, me lembrei que no ano passado, o mesmo aconteceu, mas felizmente, ele havia se enganado. Na ocasião ele copiava alguns arquivos do meu netbook e sem querer apagara uma pasta, na qual, basicamente, estavam todos os meus trabalhos da faculdade...

Então, a véspera da performoveção de minha mesa, que contará com algumas belas amigas/mulheres, é marcada por um Déjà-vu de arquivos perdidos, desta vez, ao que tudo indica, sem chances de recuperação. E fico eu, a princípio um tanto irritada, mas ao mesmo tempo, tão tranquila por amanhã, ou melhor, por hoje daqui há algumas horas. Não pensei em nada do que devo fazer durante o percurso, nada além do que se encontra no protocolo da performance. Embora, o controle da ação seja minha e tal ação tenha como proposta a ideia de que eu exerça um certo controle, estou totalmente fora desta vibração neste momento. O que é muito bom, por sinal. 
O que sinto agora é a felicidade de poder realizar tal ação ao lado de pessoas tão maravilhosas, será belo, na medida em que tiver que ser!! É nisto que eu acredito...
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Quanto a alguns detalhes, outrora nem sequer cogitados...

Só hoje me veio a imagem de uma figura na cabeça, que a princípio não me ocorrera e que será provavelmente a que eu usarei amanhã na performoveção. Uma mulher sexy, mas de barba. Muito pertinente e provocador, para um momento em que vivencio processos hirsutos... Hirsutismo, meus amigos e amigas, para quem não sabe, são pêlos que crescem nas mulheres, em regiões comumente associadas ao sexo masculino. Um exemplo básico: rosto!
Dorme com um barulho desses!!!

Quanto as surpresas das vésperas
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Infelizmente, Camila e Luzia não poderão participar, mas antes mesmo de saber que as gurias não poderiam, havia chamado outras duas meninas/mulheres que são bixo da UERGS, com as quais tive um contato mais parofundado durante o 3º Encontro Institucional do PIBID em Xangrilá e Osório...

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Bom, por enquanto fico por aqui... Amanhã/hoje+tarde conto os detalhes!
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Ps.: Ao que tudo indica, como no ano passado, o Jonathas está recuperando os arquivos!

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Boneca dentro e fora da Galeria





Na semana passada participei da performance Boneca de Galeria do amigo Fabrízio Rodrigues[1]. Esta aconteceu na terça-feira, durante a tarde de 26 de agosto. Foi uma experiência maravilhosa e ainda por cima, me pôs em contato com energias e temas outrora mexidos, com os trabalhos Santas ou Putas, Que seja eterno enquanto dure o plástico e Vênus Renascida[2]. Tiveram momentos em que ficávamos imóveis a serviço das fotos e outros nos quais íamos para a vitrine e nos expúnhamos, para os passantes dos corredores da Fundarte. Cabe dizer, que esta ação aconteceu na Galeria de arte Loide Schwambach,durante o projeto/exposição OcupAção de Fabrízio, no qual o mesmo, transferiu para galeria seu espaço de criação, recriando nela, seu atelier. 
Na sequência, Luzia Meimes[3] e eu, fomos para o colégio Ivo Büller, CIEP, onde realizamos uma intervenção junto aos professores, com o clipe Another Bryck in the Wall. Contamos para tanto, com a participação de dois alunos que lá (ao acaso) se encontravam. A ação foi maravilhosa, potente, terminei aquele dia, no entanto, exausta, cansada fisicamente e profundamente imersa no universo daquela boneca que saindo da galeria, assumira outra atitude, de manipulada ou manipulável à manipuladora.
Não poderia ter saído da galeria para o espaço de uma escola com o mesmo figurino, por isso, o colega Fabrízio me emprestou também um casaco acinturado e longo, que interferiu em meus movimentos e postura, isto somado à bota que eu usava e o contexto da marcha que instauramos na ação com os professores, influenciou diretamente na condição de liderança que a boneca passou a exercer.
Um dado interessante, é que terminadas as ações intensas da maratona de 26 de agosto, eu não conseguia falar. Sentia muita dor no maxilar e como já tive problemas no mesmo, sabia que não podia forçar a fala, para evitar maiores danos, como por exemplo, ter que correr para um dentista, para pôr o carrilho no lugar. Foram experiências perturbadoras e interessantes, das quais me sinto grata por participar. Espero poder voltar a vivenciar outras ações em parceria com o Fabrízio, alinhando as memórias que o prostituíram[4], ao presente em que me prostituo[5] artisticamente sem nenhuma objeção, deixando que o agora determine, quais memórias e sensações devem ser evocadas e adotadas ao momento de performar.



[1] É formado na UERGS, em Artes Visuais e possui um trabalho muito ligado ao teatro, visto que dentre outras coisas, é figurinista.
[2] O trabalho Santas ou Putas, realizado em 2012, visava que por meio de análise de uma imagem que expunha uma mulher junto a pedaços de carne em um açougue de Montenegro, levantar as percepções e perturbações que a mesma trazia. Sendo que na sequência, perguntas relacionadas com imagens do sagrado feminino, buscavam relacionar tal estranhamento às diferentes concepções do que é ser “Santa” ou ser “Puta” e de onde viriam estes conceitos. Tal projeto que culminou em uma performance, entrevistou mulheres de diferentes profissões, como comerciantes, incluindo professoras e alunas dos cursos de pedagogia da UERGS, além da professora Martha Hoppe, durante o primeiro encontro Institucinal do PIBID em São Luís Gonzaga. Os dois últimos trabalhos citados, refletem sobre a fusão de plástico e corpo. O plástico como algo que sobreviverá a nós, que é mais durável e ao mesmo tempo descartável. O plástico que permanecendo revelará às futuras gerações, quem fomos.
[3] A colega Luzia Meimes fez parte da performance, foi uma das fotógrafas.
[4] No primeiro dia em que visitei a galeria, vários antes deste em que participei como performer. Fabrízio mostrando alguns de seus trabalhos, referiu-se a eles como as memórias que o prostituíram. Naquele momento em especial, eu sentia-me desgastada e infeliz, mas ao entrar em contato com a arte-ancestral-atemporal-e-prostituta do meu amigo, senti que me era possível, ser artista também.
[5] Aqui este termo assume a conotação poética de que esta ação implica em colocar-se a serviço da arte e das necessidades que se apresentam através da mesma no presente.
 

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Eu tinha medo,mas tava tudo bem

Ali eu me vestia de ilusões e fúria. M e   p e r d i a.. Sentia raiva e repetia as mesmas baboseiras, desperdiçava a energia na mesma direção, indiretamente, eu não me dirigia a lugar nenhum... Correr, correr, ficar parada... Parar, parar... e por que não correr?

Quero aceitar que seja cinza, que os passos mudem e se encham de cor. Quero abraçar o riso, aceitar o formato desta máscara uma vez mais... Quem sabe ganhar algum dinheiro com isso.
Quero morrer no sábado, mas quero VIVER até lá...

Quero  me  p e r d e r        p  r o c u  r  a  n  d  o


(26/08/2014 - 4:49)

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

INquietação

Barulho e silêncio... Tensão. Pensamentos se pechando, chocando... Ideias e mais ideias. O que eu gostaria de fazer, quantas destas coisas eu já faço, qual é a organização necessária para que eu as continue... Note que não há pontos de interrogação, minhas questões são mais afirmações indagatórias, do que perguntas sem resposta. Claro, há também estas, mas sei lá...

Barulho e silêncio... Cansaço. O que eu preciso fazer... Para subExistir? Contas pra pagar X poesia. Livros pra ler... Preocupações antecipadas com a possibilidade de menos trabalho nos meses de verão, a profunda confiança na sabedoria universal... No Universo que SOU EU e que é tanta gente!

Ao mesmo tempo que tudo pulsa, pula e desestabiliza-se em mim, principalmente depois da aula de Poéticas do Processo em Arte de hoje, alguns outros ruídos repousam, fogem, se perdem. São muitas coisas a fazer... Mas, às vezes, não sei o que fazer com elas!

Amanhã, além de ensaio da peça que eu dirijo, teremos uma reunião na casa da Cintia sobre uma performance que vamos realizar... Detalhe, ela nem sabe da reunião (hauhauhauhau)... só sabe que eu vou lá, mas chegarei carregada de outras mulheres, literalmente!

Esta performance surgiu de uma necessidade básica de trazer a mesa que deixei na casa de um colega, no período que morei em Porto Batista, para casa onde moro hoje em Montenegro. O colega em questão é Bruno Parisoto, mora no bairro Centro, assim como eu, mas em outro extremo. No semestre passado havia comentado com as atrizes do BLA, BLA, BLA, sobre a ideia e elas ficaram super pilhadas.
As coisas foram acontecendo e a mesa foi ficando... Pensando sobre isto, neste domingo, enquanto começava a limpar a casa (praticamente desistindo da ideia e pagando um frete, enquanto lutava comigo mesma e repensava sua feitura), a Fernanda Stürmer, minha parceira de uma série de trabalhos e jornadas artísticas, me mandou um e-mail com o projeto dela de TCC para que eu lê-se. Bom... e o título é:

Do corpo à mesa...

O projeto é lindo, profundo... poético. Logo conectei-o a minha mesa, que será então a nossa... Milhares de ideias e assim, puf!! Lá vamos nós, fazer a performance!

E no meio disso, tem as trufas. Meus amados chocolates que tenho e amo fazer... Havia dado uma baixa, ou eu estava em baixa... O fato é que tô com um monte de dindin pra receber e clientes querendo comprar.  Então desejo e penso que este é também um processo artístico e que devo refletir sobre ele, o colocando no meu Livro de Artista, que faremos para a disciplina de POÉTICAS...

No mais dar aulas, tentar fechar umas oficinas remuneradas, pensar em projetos que façam sentido pra mim, mas que tbm rendam grana (o que nem sempre acontece)... Ensaiar para o Jardim, encontrar-me com o ISSO mais frequentemente... Continuar dirigindo o Bla, Bla, Bla...Participar de uns eventos científicos, seguir com o PIBID...

Há e tentar no meio disso, direcionar energias para os florais e o reiki!

UFA!!!

Chega de barulho... Preciso de silêncio... é só o que eu preciso!

(Por enquanto)

Ps.: O horário verdadeiro desta postagem é 1:36 de 5 de agosto... Nunca ajustei o horário disso aqui.

domingo, 3 de agosto de 2014

Enigma da Rosa Mãe

E minha mãe me fala uma frase... Parece uma charada bem humorada... Mas não foi com bom ares de humor, que esta foi proferida e repetida pausadamente, palavra por palavra, mais de uma vez....



Às vezes, a gente se apaixona pela paixão que sente pela pessoa que ama...





A foto acima é uma foto de uma foto de meu pai e minha mãe... 

Está embaçada, é a foto de uma foto e simboliza o meu comentário acerca do enigma que ela me lançou nesta noite de domingo!

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Texto criado para o processo de pesquisa pessoal em "O Jardim das Cerejeiras"


Entre pedras e memórias.
                                                                                              Lis Machado[1]

Carlota Ivanóvna chega a casa no primeiro ato, com um belo casaco bordô e uma pequena mala. Basicamente, estas coisas são as que ela possui!

Voltando de Paris... Longe Paris...[2]

O casaco que a personagem usa pertence à diretora da peça, Tatiana Cardoso. Logo no primeiro ensaio com ele, encontrei uma pequena pedra em seu bolso, era amarelada, bonita, simples. Não parecia uma pedra de grande valor, mas representava algo místico. Era uma pedra desconhecida no bolso de Carlota, deixada ali por alguém que nem eu, nem ela conhecíamos. Optei por não retira-la dali, mas também não fiz grandes alardes quanto a sua existência. Seguimos convivendo... Carlota, eu e a pedra!
Cada vez em que me preparava para entrar em cena no primeiro ato, eu já sabia... Minha mão, involuntariamente... sem consultar meu braço, cotovelo ou ombro, escorregaria até o compartimento secreto e seguraria a dita cuja. Foram mais de dois anos de convivência, até que...

Comentei em um ensaio com minha diretora, de que havia uma pedra no bolso do casaco e que a qualquer hora, eu acabaria escrevendo sobre sua existência. Alguns ensaios depois, quando voltei a vestir o agasalho, minha mão saudosa de seus habituais flertes mágicos com a nossa acompanhante misteriosa, deslizou até o bolso, lá encontrando apenas o vazio de um forro qualquer. Assim como surgiu, a pedra evaporou. Não há outra explicação...[3]

Carlota e eu temos muito em comum, desconhecemos conscientemente nossas origens, mas as sentimos (in) consciente e profundamente.

Eu não tenho passaporte em ordem, não sei que idade tenho. Me sinto sempre uma mocinha (...) Um dia, quando papai e mamãe morreram uma senhora alemã me pegou e me educou. Eu cresci e virei governanta, mas quem eu sou e de onde eu vim, não sei, nem quem foram meus pais, casados não deviam ser, sei lá...[4]

Não sei muito sobre meu pai, ele morreu quando eu tinha apenas sete meses. No entanto, sei que era casado com minha mãe, que ainda vive e envelhece mais e mais, todos os dias. A cada nova linha no rosto de minha mãe, menos eu a reconheço, não pelas modificações de sua pele, mas pela constatação, de que ainda não sei quem ela é e de que não tenho tempo para tentar descobrir. Entre uma visita e outra, novas linhas aparecem... no rosto dela e também no meu.

Agora voltemos a meu pai, que já se foi como o de Carlota.
Ele partiu, mas, deixou-me memórias emprestadas, cultivadas por sua mulher, regadas por algumas histórias, alguns objetos – de origem artística ou mística – que encontro, guardo, cultuo e cultivo.

Um destes objetos é uma pedra:

Ela que era minha
Também era de meu pai
Usada em seus rituais místicos
Um pai mágico para uma atriz que faz uma personagem mágica

Ela que era mágica
Também era do pai dela
Ela que era uma personagem de Tchéckov
Era agora minha
Para criar, compor, dar vida

Dar-lhe vida
           dar-lhe a pedra




Agora você porta a pedra certa:

Bravo, Carlota Ivanóvna!




[1] Atriz pesquisadora do espetáculo O Jardim das Cerejeiras, do dramaturgo russo Anton Tchéckov, dirigida e orientada pela professora Tatiana Cardoso.
[2] Fragmentos de texto do personagem Firs em O Jardim das Cerejeiras.
[3] No ensaio em questão, Tatiana falou-me que a pedra talvez fosse de seu filho, Teodoro.
[4] Fragmentos de texto da personagem Carlota Ivanóvna em O Jardim das Cerejeiras.

Caminhando... caminho... Junto delas... caminhos...

Então tu sais para mais um ensaio, na realidade, uma retomada do BLA, BLA, BLA... O primeiro ensaio prático. Muitas ideias, excelentes atrizes... Uma diretora principiante, que prefere o título simples e abrangente, de ARTISTA...

Então a ARTISTA, propõe caminhos, e que caminhem... e que fechem os olhos e que se diminuam, e que sejam lixo, e que sejam carne, e que se sintam presas em suas carnes e memórias. Uma série de exercícios, pensados e planejados de uma determinada forma e executados de outra, totalmente diferente...

Então elas fazem, elas se jogam, elas temem, se entregam e escapam, confiam mais e menos, mas se entregam e fazem! São artistas... Se aproximam, jogam, se perdem. Tentam fazer o certo. Ignoram que o certo não existe, mas aí se esquecem das certezas e fazem outras coisas. As outras coisas são melhores e maiores que as certas...

Então tu juntas os retalhos e compõe os pedacinhos, decompõe, recompõe, propõe... brinca!

E aí, acontece algo mágico. Algo bom. Algo Teatro. Tu pensas que caminha... e que não conhece o caminho. Mas conhece as demais caminhantes...

Então                   junto                     tu te deixa ir...

Te deixa ir...

 Te deixa...

quinta-feira, 31 de julho de 2014

Sentido e Tempo...

Agora é 00:23, o sino da Igreja Luterana aqui de perto de casa, acaba de soar. Ele sempre soa em horários quebrados, que não parecem fazer muito sentido. Aí eu pensei sobre este blog que ninguém lê, no qual eu escrevo de vez em quando, e no fato de que ele não tem horários ajustados. As postagens nunca correspondem ao horário e até aos dias em que foram feitas... E daí? O que é o tempo? Como eu o percebo? Tenho 32 anos, mas, me sinto sempre uma mocinha (parafraseando Carlota Ivanóvna). É assim eu sou... perdida... mas estou sempre no caminho ou à caminho de algo... isto acaso é ser perdida de fato? E o que é ser equilibrada, saber o seu lugar? Tantas questões, dúvidas, medos, certezas... Mas lá no fundo, há uma confiança tão profunda no invisível.
Meu labirinto são minhas digitais, são as linhas que eu percebo no rosto do Jonathas e as que eu ignoro no meu.
 Há uns dois anos atrás postei no facebook a frase Labirinto simplificado é linha reta, assinalando que faria um curta com este título...
O curta não saiu, mas, fiz outras coisas com linhas retas, curvas, pontilhadas... Escrevi um trabalho, escrevi recados, cartas e não escrevi uma série de outras coisas. São muitas ideias pra uma única cabeça... Acho que preciso me juntar a outros corpos, para que de fato eu possa realizar ao menos 1% das loucuras enquanto há tempo...

Mas o que é o tempo?

Como eu o percebo?

00:36... 13 minutos, meia dúzia de linhas, um pouco de mim...

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Então as tuas férias estão plenas de outras coisas que não se parecem com férias...

Estas são as últimas férias oficiais que tenho na Uergs, visto que estou prestes a me formar. No semestre passado dirigi o espetáculo BLA, BLA, BLA, dentro da disciplina Prática de Encenação Teatral, ministrada pela professora Jezebel de Carli. O processo foi intenso, desafiador, mas resultou em um trabalho maravilhoso e em uma ligação forte com os (as) artistas participantes. Em função disso, decidimos continuar com a peça, retomando-a agora para posterior apresentação em agosto. Realizada no subsolo da Estação da Cultura, a peça prosseguirá ao menos este ano, ocupando aquele espaço, até que encontremos novos porões para nos infiltrarmos. O texto de David Ives - Palavras, Palavras, Palavras, sofreu algumas boas alterações em nossa adaptação, que conta com pelo menos três instalações diferentes por onde passa o público, até que chegue ao ponto de observação do espetáculo. A ideia de que são mais observadores, testemunhas de um experimento, do que necessariamente uma plateia, ainda carece de maiores aprofundamentos e investigações. Mas, seguiremos neste caminho - Raquel Peres, Luana Camila, Carla Saticq, Carla Pozo, Jéssica Pinheiro, Juliano Canal, Fernanda Stürmer e eu...

Além da retomada do BLA, BLA, BLA, nos reencontramos mais profundamente com nosso Jardim de Cerejeiras, orquestrado por Tatiana Cardoso. Desde o ano passado, ensaiamos uma vez por semana, mas fazemos regularmente intensivos de férias, que são extremamente ricos. Estamos entrando no terceiro ano deste trabalho, ampliando suas possibilidades, nos estruturando enquanto grupo e isto é maravilhoso!!! Até o fim do ano, com cenário e figurinos novos, faremos 4 apresentações, antecedidas de oficinas, que serão ministradas em duplas.
As apresentações fazem parte do projeto Circuito Universitário  e acontecem nos meses de setembro e outubro.  Estamos ansiosos (as) e felizes...

E quanto ao ISSO? Bom, o meu ritual performance ISSO, tem uma retomada mais contínua, a partir deste segundo semestre. Apresentei em duas sessões no presídio de Montenegro, na ala feminina. Foi muito bonito. Gostaria de tê-lo retomado mais intensamente desde o primeiro semestre, mas vivenciando meu processo de criação como diretora do BLA, BLA, BLA, morando lá e cá, (Porto Batista e Montenegro), fiquei perdida, sem saber como juntar as coisas e realizá-las de maneira produtiva. Então, esperei... me organizei, voltei para Montenegro e centralizei minha vida em um único endereço, agora então, começo a retomar não só o ISSO, mas o projeto Poesia Pessoal. Este nada mais é do que o nome pelo qual batizei o meu processo de criação do ISSO, após sua conclusão e releitura. A partir do Poesia Pessoal, me ponho a investigar como recriar alguns aspectos de suas vivências e caminhos híbridos, para propor alguns pontos de partida à alunas (os) que queiram imaginar/recriar suas próprias memórias e mitologia pessoal.

ISSO já tem sessões previstas para agosto na Estação da Cultura (Montenegro), setembro na CASA VIVA (Montenegro) e em outubro na Casa de Teatro (POA).