Na semana passada participei da
performance Boneca de Galeria do amigo Fabrízio Rodrigues[1]. Esta aconteceu na
terça-feira, durante a tarde de 26 de agosto. Foi uma experiência maravilhosa e
ainda por cima, me pôs em contato com energias e temas outrora mexidos, com os trabalhos Santas
ou Putas, Que seja eterno enquanto dure o plástico e Vênus Renascida[2]. Tiveram
momentos em que ficávamos imóveis a serviço das fotos e outros nos quais íamos
para a vitrine e nos expúnhamos, para os passantes dos corredores da Fundarte.
Cabe dizer, que esta ação aconteceu na Galeria de arte Loide Schwambach,durante o
projeto/exposição OcupAção de Fabrízio, no qual o mesmo, transferiu para
galeria seu espaço de criação, recriando nela, seu atelier.
Na sequência, Luzia Meimes[3] e eu, fomos para o colégio
Ivo Büller, CIEP, onde realizamos uma intervenção junto aos professores, com o
clipe Another Bryck in the
Wall. Contamos para tanto, com a participação de dois alunos que lá (ao
acaso) se encontravam. A ação foi maravilhosa, potente, terminei aquele dia, no
entanto, exausta, cansada fisicamente e profundamente imersa no universo
daquela boneca que saindo da galeria, assumira outra atitude, de manipulada ou
manipulável à manipuladora.
Não poderia ter saído da galeria para o
espaço de uma escola com o mesmo figurino, por isso, o colega Fabrízio me
emprestou também um casaco acinturado e longo, que interferiu em meus
movimentos e postura, isto somado à bota que eu usava e o contexto da marcha
que instauramos na ação com os professores, influenciou diretamente na condição
de liderança que a boneca passou a exercer.
Um dado interessante, é que terminadas as
ações intensas da maratona de 26 de agosto, eu não conseguia falar. Sentia muita
dor no maxilar e como já tive problemas no mesmo, sabia que não podia forçar a
fala, para evitar maiores danos, como por exemplo, ter que correr para um
dentista, para pôr o carrilho no lugar.
Foram experiências perturbadoras e interessantes, das quais me sinto grata por
participar. Espero poder voltar a vivenciar outras ações em parceria com o
Fabrízio, alinhando as memórias que o prostituíram[4], ao presente em que me prostituo[5] artisticamente sem nenhuma
objeção, deixando que o agora determine, quais memórias e sensações devem ser
evocadas e adotadas ao momento de performar.
[1]
É formado na UERGS, em Artes Visuais e possui um trabalho muito ligado ao
teatro, visto que dentre outras coisas, é figurinista.
[2] O
trabalho Santas ou Putas, realizado em 2012, visava que por meio de análise de
uma imagem que expunha uma mulher junto a pedaços de carne em um açougue de
Montenegro, levantar as percepções e perturbações que a mesma trazia. Sendo que
na sequência, perguntas relacionadas com imagens do sagrado feminino, buscavam
relacionar tal estranhamento às diferentes concepções do que é ser “Santa” ou
ser “Puta” e de onde viriam estes conceitos. Tal projeto que culminou em uma
performance, entrevistou mulheres de diferentes profissões, como comerciantes,
incluindo professoras e alunas dos cursos de pedagogia da UERGS, além da
professora Martha Hoppe, durante o primeiro encontro Institucinal do PIBID em
São Luís Gonzaga. Os dois últimos trabalhos citados, refletem sobre a fusão de
plástico e corpo. O plástico como algo que sobreviverá a nós, que é mais
durável e ao mesmo tempo descartável. O plástico que permanecendo revelará às
futuras gerações, quem fomos.
[3] A colega
Luzia Meimes fez parte da performance, foi uma das fotógrafas.
[4] No
primeiro dia em que visitei a galeria, vários antes deste em que participei
como performer. Fabrízio mostrando alguns de seus trabalhos, referiu-se a eles
como as memórias que o prostituíram. Naquele momento em especial, eu sentia-me
desgastada e infeliz, mas ao entrar em contato com a arte-ancestral-atemporal-e-prostituta do meu amigo, senti que me
era possível, ser artista também.
[5]
Aqui este termo assume a conotação poética de que esta ação implica em
colocar-se a serviço da arte e das necessidades que se apresentam através da
mesma no presente.
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