quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Algo que li e quero partilhar...

Páginas 319 e 320 de A Brincadeira de Milan Kundera. Este livro está disponível na biblioteca do Café da Estação em Montenegro.

E no entanto, para conseguir na época esse corpo desesperadamente desejado, teria bastado uma coisa muito simples: compreendê-la, orientar-se por ela, amá-la, não apenas pelo aspecto da sua personalidade que se dirigia a mim, mas também por tudo aquilo que não me dizia respeito de modo direto, pelo que ela era em si e para si. Eu não sabia disso, e por isso fiz mal à nós dois. Uma onda de raiva contra mim mesmo me inundou, raiva contra minha idade de então, contra a estúpida "idade lírica", em que somos a nossos olhos um enigma grande demais para que possamos nos interessar pelos enigmas que estão fora de nós, em que os outros (mesmo os mais amados) são apenas espelhos móveis nos quais encontramos, espantados a imagem de nosso próprio sentimento de nossa própria emoção, de nosso próprio valor. É, durante esses quinze anos, pensei em Lucie apenas como no espelho que guarda minha imagem do passado!

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